Ecos do Mar

Everson Fonseca – @eversonfonsecaartistavisual – óleo sobre linho – 50 x 50 cm

Criar é se desnudar. Seja de maneira implícita ou explícita, uma obra de arte é um ato de apresentação ao mundo. Esta obra, por exemplo, remete à infância do artista. Aos oito anos, alagoano, residente em Aracaju, ia nos finais de semana brincar no mar com a mãe. No entanto, quando o pai comprou uma fazenda, teve que mudar para Caruaru, PE, onde sentiu saudades da praia, sem entender por que as ondas não estavam mais por perto. A mãe, porém, teve a sabedoria de lhe dar uma concha e ensinar que bastava colocá-la no ouvido para que o som dos oceanos ecoasse e invadisse o seu corpo…

Essa narrativa já seria suficiente para criar fascínio pela imagem, mas há ainda mais um fator a ser ponderado. Perfeccionista em suas construções visuais, Everson notou que o olho direito da imagem estava levemente maior do que o esquerdo. Pensou em fazer a correção, mas logo desistiu sem ter um motivo racional para isso. Mais tarde, ao refletir sobre o episódio, lembrou que, por volta dos 13 anos, ao perceber que não enxergava bem do olho direito e ir com a mãe ao oculista, recebeu a informação que isso tinha acontecido porque o nervo atrofiara. Se, desde os três anos, tivesse coberto o olho esquerdo com um esparadrapo, “forçando” o outro a buscar as imagens, isso não teria acontecido. Como não fez isso, passou a vislumbrar apenas vultos com esse olho, justamente o que agora surge maior na tela. Completando o quadro, há um peixe, alusão ao signo no zodíaco do artista, Aquário. Portanto, a obra fala dele mesmo de maneiras diversas e poéticas, lúdicas e existenciais, tecnicamente primorosas e humanamente fascinantes.

Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.

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